Em meio à crise humanitária que afeta o povo Yanomami, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou um relatório que chama atenção para a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à infância e juventude indígena. O estudo destaca que, apesar das dificuldades, a infância Yanomami é marcada por liberdade, forte vínculo com a floresta e participação ativa na vida comunitária.
“Ouvimos lideranças, jovens e especialistas para entender o que significa ser criança na maior terra indígena do Brasil”, afirma o documento.
Entre os aspectos valorizados, estão o aprendizado por meio da convivência, a autonomia das crianças e a integração com as atividades diárias da comunidade.
“Na floresta, as crianças crescem brincando, acompanhando seus pais na caça e suas mães na colheita, observando as reuniões coletivas”, descreve o relatório, que também enfatiza o papel da coletividade no cuidado infantil.
O estudo aponta que cerca de 75% da população Yanomami tem menos de 30 anos — um número que reforça a urgência de ações direcionadas a essa geração, especialmente os filhos da chamada “geração terra demarcada”, nascidos após o reconhecimento oficial do território.
Para a antropóloga Ana Maria Machado, uma das autoras do relatório, a infância Yanomami é profundamente diferente da realidade urbana.
“Os Yanomami têm uma rede de cuidado coletivo muito mais densa do que vemos no mundo ocidental. A liberdade e a circulação livre são características centrais dessa infância”, explica.
Já o antropólogo Marcelo Moura destaca a importância de compreender como os jovens indígenas lidam com as mudanças trazidas pelo contato com o mundo não indígena, incluindo o uso de tecnologias e os conflitos entre gerações.
O Unicef reforça que ouvir os Yanomami e trabalhar em conjunto com suas associações é essencial para construir políticas públicas eficazes. O relatório recomenda que sejam garantidos direitos básicos como acesso à saúde, educação, água potável e proteção do território, de forma a assegurar um desenvolvimento digno para as crianças e jovens da etnia.