Após quase três anos, o Médicos Sem Fronteiras (MSF) concluiu suas atividades na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima. O projeto incluiu atendimento médico geral, combate à malária, saúde mental, educação em saúde e melhorias de infraestrutura, com integração entre práticas tradicionais indígenas e medicina moderna.
No polo-base de Auaris, moradores viram redes usadas como leitos e placas em português, Sänoma e Ye’kwana.
“Sanöma e Serenabi trabalhando juntos. Pajé e doutor juntos. Primeiro o xapori [ritual de cura], depois leva para o posto”, explicou Miro Sanöma, da Comunidade Kululu.
A TIY tem mais de 30 mil habitantes, concentrados principalmente nas etnias Sanöma e Ye’kwana. Carlos Camacho, médico do MSF, relatou a mudança no perfil de atendimentos.
“Quando cheguei, havia um paciente grave por dia. Hoje quase não atendemos casos graves.”
Dados do Ministério da Saúde mostram queda nos casos de malária, de 17.952 para 14.233 entre os primeiros semestres de 2024 e 2025, e redução de mortes de dez para três.
O MSF também atuou na Casa de Apoio à Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kwana (Casai-YY), em Boa Vista, realizando consultas, acompanhamento comunitário e atividades de saúde mental. Foram 523 atendimentos individuais e 5.582 coletivos.
Antropólogos e mediadores interculturais ajudaram a integrar saberes tradicionais e práticas médicas. A educação em saúde abordou malária, nutrição e manejo de lixo, incentivando a busca por assistência ainda no estágio inicial da doença.
No encerramento, o MSF treinou profissionais e comunidades para manter os cuidados.
“Queremos que os avanços dos últimos anos continuem beneficiando as comunidades indígenas. Aprendemos sobre doenças espirituais e curas dos xamãs”, afirmou Damaris Giuliana, coordenadora do projeto.
A organização atua no Brasil desde os anos 1990, respondendo a surtos de cólera, malária e à pandemia de covid-19, com foco em povos indígenas.
